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domingo, 4 de agosto de 2013

A TARDE - Por Castro Alves


A TARDE 
 Por Castro Alves
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Era a hora em que a tarde se debruça 
Lá da crista das serras mais remotas...
E da araponga o canto, que soluça, 
Acorda os ecos nos sombrias grotas; 
Quando sobre a lagoa, que se embuça, 
Passa o bando selvagem de gaivotas...
E a onça sobre as lapas salta urrando, 
Da cordilheira os visos abalando. 
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Era a hora em que os cardos rumorejam. 
Como um abrir de bocas inspiradas, 
E os angicos as comas espanejam,
Pelos dedos das auras perfumadas...
A hora em que as gardênias, que se beijam, 
São tímidas, medrosas desposadas; 
E a pedra... a flor... as selvas... os condores
Gaguejam... falam... canta seus amores!
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Hora meiga da tarde! Como és bela
Quando surges do azul da zona ardente!
- Tu és do céu a pálida donzela, 
Que se banha nas termas do oriente...
Quando é gota do banho cada estrela, 
Que te rola da espádua refulgente...
E - prendendo-te a trança a meia lua
Te enrolas em neblinas semi-nua! 
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Eu amo-te, ó mimosa do infinito! 
Tu me lembras o tempo em que era infante. 
Inda adora-te o peito do precito 
No meio do martírio excruciante; 
E se  não te dá mais da infância o grito, 
Que menino elevava-te arrogante, 
É que agora os martírios foram tantos, 
Que mesmo para o riso só tem prantos!...
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Mas não me esqueço nunca dos fraguedos
Onde infante selvagem me guiavas, 
E os ninhos do sofrer que entre os silvedos 
De embaíba nos ramos me apontavas; 
Nem mais tarde, dos lânguidos segredos
Do amor do nenúfar que enamoravas...
E as tranças mulheris da granadilha! ...
E os braços fogosos da baunilha!... 
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E te amei tanto - cheia de harmonias, 
A murmurar os cantos da serrana, 
A lustrar o broquel das serranias, 
A dourar dos redeiros a cabana... 
E te amei tanto - à flor das águas frias
Da lagoa agitando a verde cana, 
Que sonhava morrer entre os palmares, 
Fitando o céu ao tom dos teus cantares!...
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mas hoje, da procela aos estridores, 
Sublime, desgrenhada sobre o monte, 
Eu quisera fitar-te entre os condores 
Das nuvens arruivadas do horizonte...
- Para então - do relâmpado aos livores, 
Que descobrem do espaço a larga fronte, 
Contemplando o infinito... na floresta, 
Rolar ao som da funeral orquestra! 
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Pesquisa e postagem : Nicéas Romeo Zanchett 
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BREVE BIOGRAFIA
Antônio de Castro Alves, poeta brasileiro, nasceu na Bahia a 14 de Março de 1847 e faleceu a 6 de Julho de 1871.  Cursou Ciências Sociais e Jurídicas na faculdade de Pernambuco e na de São Paulo, mas faleceu quando frequentava o quarto ano.  Escreveu: Gonzaga e a revolução de Minas, drama, 1870; A Cachoeira de São Paulo, publicada em 1876; Espumas Flutuantes, publicada em 1878; Alem de O Navio Negreiro e Vozes da África. 
Nicéas Romeo Zanchett 




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