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segunda-feira, 5 de agosto de 2013

QUADRAS - Por Campoamor - Das Doloras.


QUADRAS 
 Por 
Ramon de Campoamor
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Causas-me tanto pesar, 
Que cheguei a compreender 
Que muito me deve amar
Quem tanto me faz sofrer. 
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Absorto em ti, neste enleio
Só no teu amor eu cri, 
Mas agora em nada creio
Desde que não creio em ti. 
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O mesmo amor ela tem
Do que a morte, a quem as ama:
Vem se ninguém a chama, 
Se alguém a chama - não vem. 
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Não te tenho que pagar, 
Nem me ficas a dever; 
Se eu te ensinei a amar, 
Tu ensinaste-me a esquecer. 
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Quando passas a meu lado
Sem me olhares, envergonhada, 
Não te lembras de mim nada, 
Ou lembras-te demasiado? 
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Louca por mim te afiguras, 
Mas escuta os que te advertem
Que não fazes mais loucuras
Que aquelas que te divertem. 
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Outrora, no meu desejo, 
Mesmo sem olhar te via; 
Passou tempo... e hoje em dia, 
Mesmo a olhar-te, não te vejo.
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Pensando que hei de morrer
A tal desventura chego
Que como um morto me entrego
À alegria de viver. 
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Mesmo contente, se vê
Que uma pena em mim se esconde
Que a sinto não sei bem onde
E nasce de não sei que. 
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Dizia eu, de amor louco: 
Sofrer tão pouco por tanto! 
E disse, ao perder o encanto: 
Sofrer tanto por tão pouco!
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Sempre a dor e sempre o bem
São como espinhos e flores. 
Por cada prazer cem dores, 
Por cada dor outras cem. 
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Meu desejo é desejar
Mais que alcançar o que quero, 
E melhor do que o que espero
O que espero é - esperar.
Se entre ser e não ser
Tivesse o homem escolhido, 
Claro está - teria sido
O não poder escolher. 
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Que me perdoe o eterno, 
Mas não sei qual é maior, 
Se aquela dor do inferno,
Se este inferno de dor. 
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         BREVE BIOGRAFIA 
          Ramon de Campoamor y Campo Osório, poeta espanhol, nasceu em Navia em 1824 e morreu em Madrid em 1901. Foi muito novo para a capital, onde começou a publicar no "El Laberinto" várias poesias (1844). Em 1859 publicou o jornal "El Estudo", no qual sustentou brilhantes polêmicas de Castelar. A sua personalidade como político e filósofo é, no entanto, secundária quando comparada com a sua personalidade poética, sendo verdadeiras jóias literárias, algumas das suas obras. Publicou: "Fábulas", "Doloras", "Os poemas de Colombo|" e o "Drama Universal", os "pequenos Poemas, "As Humuradas", as "Lendas" e outras composições. Para o teatro escreveu algumas obras, sendo as mais aplaudidas "O Palácio da Verdade" e "A Guerra". 
Nicéas Romeo Zanchett 
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