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sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

Y - JUCA - PYRAMA - Por Gonçalves Dias

Y - Juca - Pyrama (Sc.de Sá) 

PRIMEIROS VERSOS 
No meio das tabas de amenos verdores, 
Cercados de troncos - coberto de flores, 
Ateiam-se os tetos da altiva nação; 
São muitos seus filhos, no ânimos fortes, 
Temíveis na guerra, que em densas cortes
Assombram das matas a imensa extensão. 
São rudos, severos, sedentos de glória, 
Já prélios incitam, já cantam vitória, 
Já meigos atendem à voz do cantor; 
São todos Timbiras, guerreiros valentes! 
Seu nome lá voa na boca das gentes, 
Condão de prodígios, de glória e terror! 


As tribos vizinhas, sem forças, sem brio, 
As armas quebrando, lançando-as ao rio, 
O incenso aspiram dos seus maracás; 
Medrosos das guerras que os fortes acendem, 
Custosos tributos ignavos lá rendem, 
Aos duros guerreiros sujeitos na paz. 


No centro da taba se estende um terreiro, 
Onde ora se aduna o concílio guerreiro
Da tribo senhora, das tribos servis; 
Os velhos sentados praticam d'outrora, 
E os moços inquietos, que a festa enamora, 
Derramam-se em torno dum índio infeliz. 


Quem é? - ninguém sabe; seu nome é ignoto, 
Sua tribo não diz; - mas de um povo remoto 
Descende por certo - dum povo gentil; 
Assim lá na Grécia ao escravo insulano 
Tornavam distinto do vil muçulmano
As linhas corretas do nobre perfil. 


Por casos de guerra caiu prisioneiro
Nas mãos dos Timbiras; - no extenso terreiro
Assola-se o teto que o teve em prisão; 
Convidam-se as tribos dos seus arredores, 
Cuidosos se incumbem do vaso das cores, 
Dos vários aprestos da honrosa função. 
.
Acerta-se a lenha da vasta fogueira, 
Entesa-se a corda da embira ligeira, 
Adorna-se a maçã com penas gentis; 
A custo entre vagas do povo da aldeia
 Caminha o Timbira, que a turba rodeia, 
Garboso nas plumas de variado  matiz. 


Em tanto as mulheres com leda trigança, 
Afeitas ao rito da bárbara usança, 
O índio já querem cativo acabar; 
A coma lhe cortam, os membros lhe tingem, 
Brilhante enduape  no corpo lhe cingem, 
Sombreia-lhe a fronte gentil Canitar.


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BREVE BIOGRAFIA 
Antônio Gonçalves Dias, poeta brasileiro, nasceu em Caxias, Maranhão, a 10 de Agosto de 1823, e faleceu a 3 de Novembro de 1864 no naufrágio do Ville de Boulogne. Foi estudar em Portugal onde fez os preparatórios e o curso de direito na Universidade de Coimbra. Voltando ao Brasil dedicou-se à advocacia que abandonou pouco tempo depois, sendo nomeado lente de história e latinidade no Colégio de D. Pedro II. Era sócio do Instituto Histórico e Geográfico brasileiro e de outras associações literárias. É considerado um dos poetas que mais contribuiu para a libertar a poesia brasileira do classicismo. Escreveu: Primeiros Contos, 1846; Segundos Contos e sextilhas de Frei Antão, 1848; Últimos Contos, 1850; Leonor de Mendonça (drama); Boabdil (drama inédito), 1865; etc. Contribuiu também com memórias muito interessantes para a Revista do Instituto Histórico; O Brasil e a Oceania. 
Nicéas Romeo Zanchett 

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