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quinta-feira, 25 de dezembro de 2014

AMOR FUGITIVO - Por Moscho - Poeta de Siracusa

Desenho de Romeo Zanchett 
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AMOR FUGITIVO 
Pelo seu filho Amor em altas vozes
Bradava Vênus: se alguém viu acaso 
Nalguma encruzilhada Amor vagando, 
É o meu fugitivo. 
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Alvissaras darei, se me descobres, 
Terás por paga um osculo de Vênus;
Mas se mo trazes, não um simples beijo, 
Mais alto prêmio aguarda. 
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Bons sinais o menino tem; tu podes 
Entre vinte meninos conhecê-lo; 
Não é alvo do corpo; é semelhante
À cor do vivo fogo.
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Seus olhos acres são cintilantes;  
A tenção má, porém palavras meigas; 
E nunca fala como pensa, e as vozes 
São como o mel, suaves. 
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Mas quando se ira, o coração reponta
Feroz, e enganador, não diz verdade; 
É menino doloso, e nos seus brincos
Há só atrocidades. 
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Tem bom cabelo, desenvolto gesto; 
Pequenas as mãozinhas são; mas certo
Atiram longe; atiram-te Acerodonte,
E ao mesmo Rei do Inferno. 
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O corpo nu, o espírito rebuçado;
E qual ave veloz, que os ares fende, 
A uns, a outros voa, homens, mulheres, 
Nas entranhas se assenta. 
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Tem arco mui pequeno, e sobre o arco
Trás embebida a dura seta ervada;
Pequena seta, mas veloz alcança
A região Etérea.
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Carrega aos ombros uma aljava de ouro; 
Mas dentro dela fatais flechas guarda; 
Com elas a mim mesma muitas vezes
Me tem ferido o peito. 
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Sim; todas estas coisas são danosas, 
Todas; mas sobretudo é tenebrosa
Uma pequena facha, que ele acende, 
Que ao mesmo sol abrasa.
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Se mo houveres à mão, traze-mo preso, 
Não te mova a piedade; e se tu o vires
Alguma vez em lágrimas banhado, 
Aguarda, não te engane. 
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Inda que ele ria, traze-o preso; 
Pois já se te quiser beijar no rosto, 
Ah! foge que o seu beijo é peçonhento, 
E são veneno os beiços. 
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Se te disser: toma estas coisas, dou-te
Todas as minhas armas; não toques; 
São dádivas dolosas, que as tem todas
Em vivo fogo tintas. 
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Paisagem turística de Siracusa.
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BREVE BIOGRAFIA 
Moscho foi um poeta bucólico da escola de Teócrito; nasceu em Siracusa no século II a.C.  Foi discípulo de Aristarco e, ao que tudo indica, compôs em prosa alguns tratados sobre assuntos filológicos. Com o seu nome temos oito poemas ou fragmentos, dos quais os mais interessantes são o fragmento Europa, o Canto fúnebre em honra a Bion, e o Amor fugitivo. Dos idílios, apenas quatro são conhecidos. 
Nicéas Romeo Zanchett  





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